“PORCO PRETO” um mito

Hoje fala-se muito de produtos genuínos, de produtos portugueses, de produtos DOP, DOC, IGP e tantas outras certificações que defendem, e muito bem, os produtos portugueses, os nossos produtos. Num mercado cada vez mais global, onde se importa tudo de todo o mundo - peixes da Grécia e do Vietname, camarão da Argentina, percebes da Nova Zelândia, leitões da China, laranjas da África do Sul e por aí fora... é cada vez mais importante valorizar o que é nosso. Muitas vezes somos nós próprios a não valorizar aquilo que temos. 
E temos produtos tão bons, mas tão bons! 

A carne de porco é um exemplo, o porco é popular de norte a sul do país. Sobretudo nas aldeias quase toda a gente, ainda hoje, tem dois ou três porquinhos, que vão criando ao longo do ano de forma tradicional, alimentando-os com produtos naturais, muitas vezes deixando-os em liberdade a maior parte do dia. Os criadores colocam nas pias o que popularmente se chama a “lavagem”. A “Lavagem” não é mais do que os restos de legumes e frutas que se vai consumindo ao longo do dia, incluindo as cascas, que os porquinhos tanto adoram. 

Na minha terra, Alfândega da Fé, a partir de Novembro também os alimentamos com castanhas, desta forma enriquece ainda mais a carne e a gordura fica mais saborosa. 
Mais para o sul, sobretudo no Alentejo, a bolota toma a vez da castanha, fazendo um efeito na carne que caracteriza o sabor dos suínos daquela região. Vem isto a propósito, precisamente na região alentejana, o chamado “Porco Preto”!!! Quando alguém refere “Porco Preto”, quer dizer que é a raça que existe no Alentejo, para dizer que é genuíno. Puro engano!
Meus amigos, “Porco Preto” é coisa que não existe, não há nenhuma raça autóctone portuguesa que se chame “Porco Preto"! Repito mais uma vez, não há “Porco Preto" como raça.
Existem é muitos porcos que têm a cor preta, mas de várias raças. Incluindo a raça autóctone portuguesa que é criada no Alentejo (e não só), que é o Porco Alentejano.
Por isso quando falamos de secretos, plumas e por aí fora, se o animal for genuíno é Porco Alentejano, ponto.

Quem tenha dúvidas em relação a este tema, basta fazer uma deslocação a Vinhais, no topo norte de Portugal, em pleno Trás-os-Montes e, visitar o CENTRO INTERPRETATIVO DAS RAÇAS ANIMAIS AUTÓCTONES PORTUGUESAS. Está tudo lá, desde as galinhas aos cavalos e aos burros, das vacas aos carneiros, passando pelos porcos, encontramos o registo de tudo o que é animal português, autóctone, genuíno. Ainda por cima a viagem é bem bonita e naquela região come-se muito bem, vale mesmo a pena a deslocação. Pode-se pernoitar num dos muitos bungalows em madeira do magnífico Parque Biológico de Vinhais.

Já agora como curiosidade, apenas existem três raças de suínos autóctones portuguesas: a norte o Porco Bísaro, no centro litoral o Porco Malhado de Alcobaça e a sul o Porco Alentejano. 
O que não quer dizer que não haja outras raças de porco em Portugal de grande qualidade, claro que há, de grande variedade e com ótimos resultados. Só que não são raças autóctones do nosso país. Recentemente conheci um casal belga que se radicou no Fundão e trouxe para Portugal porcos da raça Mangalitsa, com origem na Hungria e nos Balcãs, um porco peludo que parece uma ovelha, e que se está a dar muito bem, dando origem a presunto de enorme qualidade.

Por isso meus amigos, não há raça de “Porco Preto” em Portugal, há Porco Alentejano.
E é bem bô!!