Esforço de subsistência
Quase todas as atividades humanas envolvem esforço. Algumas envolvem mais que outras. Obter comida no interior de Portugal envolvia uma enorme carga de dedicação, vontade e esforço humano. Nos casos dos pastores por exemplo, envolvia conhecer o padrão de vida dos animais, cuidar diariamente das suas necessidades e cuidar do território onde eles pastavam e dormiam. Isto incluía cuidar dos currais e cortes onde dormiam, cortar o mato para fazer camas e reparar os telhados em colmo. Cuidar da terra destinada à agricultura envolvia também uma permanente dedicação. No inverno cuidava-se dos muros, faziam-se poças, minas e arranjavam-se as levadas de água. Na Primavera faziam-se algumas sementeiras que seriam colhidas no Verão. No Outono cuidava-se do vinho e das castanhas. Viver dos ciclos naturais da terra envolvia muito suor e dedicação.
Há uns dias atrás, visitei um barracão onde se costumava secar fumeiro. O proprietário foi agricultor e pastor toda a vida. Morreu no seu posto, trabalhou quase até ao fim da sua vida. Não conheceu outro modo de vida e trabalhou ao ritmo das estações e do tempo. Este barracão já era um pouco mais moderno. Uma parede era em tijolo e outras em pedra de granito. A cobertura era de chapa, mas anteriormente tinha sido de colmo. No entanto ao entrar dentro do espaço a visão que tive foi desconsoladora. O espaço está abandonado e deixado quase igual ao último dia em que lá teria entrado. Ninguém mais continuou o seu trabalho! Não apareceu ninguém que quisesse seguir esta ocupação. Ao ver o espaço pude sentir o seu trabalho, suor e dedicação esfumar-se nas ruinas.
A comida de subsistência é uma comida de envolvimento e de tempo. Envolvimento porque necessitamos de dedicar todos os nossos dias e, de tempo porque tudo cresce e se faz a um ritmo muito próprio.
Essa ruina irá continuar assim. O seu destino será ser destruída e eliminados os vestígios do que já foi um local onde alguém comeu, onde alguém fez uma fogueira para se aquecer, onde alguém secou fumeiro para alimentar a família. A comida de subsistência envolve esforço e esse esforço merece ser preservado e valorizado. Se não desejarmos valorizar esse esfoço, iremos perder toda essa herança de qualidade e sabor.
Preservar esta herança é uma tarefa de todos. O fim da arquitetura tradicional poderá significar que brevemente a paisagem do interior do País seja muito diferente do que era no passado. O ideal seria combinar a modernidade com a tradição, preservando o esforço do passado e criando orgulho no que foi alcançado com tão poucos recursos. O Turismo será a melhor opção para preservar todo este património. Mas, para haver turismo no interior terá que haver vontade do publico em conhecer e valorizar o esforço do passado. Assim a minha tarefa como cozinheiro será continuar a mostrar a todos o valor e potencial da #comidadesubsistencia.