Comida de subsistência
Como sabem nasci em Trás-os-Montes e cresci nesse imenso território do interior de Portugal. Território esse com uma tradição alimentar muito rica e vasta. Comecei por frequentar um curso profissional de cozinha em Bragança, comecei por aprender a modernidade da cozinha sustentada na tradição, ou seja, numa adaptação moderna de algo antigo. Primeiro aprendi a cozinhar da forma tradicional, depois comecei a transportar essa aprendizagem para a cozinha moderna.
Antigamente nas casas particulares preparar a comida do dia-a-dia era uma tarefa, era algo que as pessoas se preocupavam diariamente. Incluía começar muito cedo por volta das seis da manhã para preparar o pequeno almoço para a família e terminar ao final do dia a lavar a louça após a última refeição. Não carregava nenhum glamour, mas sim uma carga emocional. Era uma tarefa repetitiva e trabalhosa. Na atualidade a situação é diferente. A comida passou a ser considerada um estilo de vida e cozinhar passou a ser uma arte socialmente muito apreciada. As pessoas passaram a dar mais atenção ao que fazem e ao que comem. A comida deixou de ser do território e passou a ser global, com a oferta de uma variedade de produtos e de técnicas que aumenta a cada dia.
A Cozinha Tradicional Portuguesa é um termo genérico que se adapta a todo o país. Dentro da Cozinha Tradicional Portuguesa existem diversas subdivisões específicas de cada território. Essa especificidade é aquilo que eu chamo de Comida de Subsistência, comida cultivada ou recolhida no território e com características de sabor e técnicas muito próprias dessa região. A Comida de Subsistência é uma culinária simples, composta pela adição de produtos locais utilizando utensílios e técnicas antigas e refinadas ao longo do tempo. A sua base é experimental, o que significa que é muito importante conhecer e estudar os nossos antepassados, desta forma podemos contribuir com variações, mas sem a descontextualizar. Por exemplo, um simples caldo verde começa com água, cebola e batata. Simples e eficaz. Feito como no passado as couves são recolhidas da horta, cegadas ao momento, colocadas na panela (se for de ferro ainda melhor), adiciona-se um fio de azeite e já está! É Tradicional e de Subsistência.
Ao escrever neste blog quero ser capaz de promover a cozinha autêntica do território sem qualquer tipo de constrangimento. Quero que as pessoas possam aprender mais e que possam admirar as qualidades dessa gastronomia que por vezes está esquecida. Quero ser mais que a soma das minhas receitas. Quero poder dar uma perspetiva da minha experiência a todos os que desejem seguir-me. Quero poder ajudar a comunidade que me criou a poder manter o seu estilo de vida e ser valorizado por isso.
A #comidadesubsistencia não pode ser só uma pessoa nem um cozinheiro. Terá que ser uma ideia empírica que procure promover o consumo deste tipo de produtos e forma de vida para beneficio de todos. Há vantagens em consumir produtos do território. Existem experiências fascinantes nesses locais que não devemos perder.
NOTA: A foto que abre o artigo é das minhas galinhas em Alfândega da Fé.