Galináceos domésticos
“Mercador – se não tens posses o que podes dar?
Siddhartha – todos dão o que têm, o soldado dá a sua força; o mercador dá bens; o professor, instrução; o agricultor, arroz; o pescador, peixe.
Mercador – Muito bem, e o que podes tu dar? O que aprendeste que possa dar?
Siddhartha – Eu sei pensar, sei esperar e sei fazer jejum.”
Excerto do livro Siddhartha de Herman Hesse
Num mundo passado onde o homem era responsável pelo seu próprio alimento, todos davam e todos recebiam. Era uma lei simples da convivência entre seres humanos. Eu dou, tu dás ele dá. Cada estação, cada ano, cada década era um acumular de repetições. Eu repito aquilo que faço bem porque faz de mim melhor.
Os galináceos domésticos também dão. Primeiramente dão companhia. Dão alimento e dão sentido à minha existência. Fazem parte dos pontos de contacto da minha vida. São extremamente uteis na horta e no ciclo de vida natural da pacatez das aldeias do interior de Portugal. Os seus cantos são famosos pela singularidade do tom e pela hora em que decidem praticar.
Este assunto parece muito poético, mas não é! É agressivo, rude e inconformado. Se não o fosse, não estariam em risco de acabar. O galo e a galinha deixarão brevemente de cantar se não protegerem o estilo de vida que mantém estes animais. Eles necessitam de espaço, necessitam que o agricultor lhes cultive aquilo que gostam, necessitam de ar puro e de um estilo de vida relaxado onde possam caminhar confiantes pela terra.
Podemos sempre consumir animais sem personalidade. Todos conhecemos o famoso “frango do aviário”. Eu consumo. Eu entendo a razão de existir. Mas o meu coração está sempre na majestosidade do galo e da galinha caseira, na textura rija da carne, no sabor do estufado com arroz e na visão da crista dentro da panela.
Todos temos algo que dar. Eu gostaria de dar uma ideia. Porque não dedicar um minuto a pensar no esforço de subsistência do estilo de vida do interior que permite manter estes animais. Frequentemente olhamos para a mesa, deliciamos-nos com a iguaria, mas viramos-lhe as costas mal estamos saciados. Esta atitude tem sido o motivo pela qual estamos alegremente a perder a nossa cultura gastronómica. E por mais que eu o diga, ninguém parece querer saber.
Façam um favor ao futuro e partilhem este artigo.
Bem-hajam