Casa Ventura

Foi a “mesa” que nos apresentou, foi a “mesa” que nos aproximou e tem sido à “mesa” que temos cimentado a nossa amizade! Fomos descobrindo que temos muitos gostos em comum, adoramos uma boa conversa, apreciamos e defendemos os nossos costumes e a nossa cultura popular, os nossos produtos, as receitas tradicionais e, acima de tudo, adoramos cozinhar e partilhar a “mesa” com todos os nossos amigos e família.

Sempre que posso, lá dou uma fugida a Telões (Amarante), para me sentar à mesa da Casa Ventura, onde sou sempre muito bem recebido. O Sr. Albino, proprietário, é uma referência da cozinha regional, que muito admiro. Mas é com o seu filho Artur e com a sua nora Helena que me sinto mais à vontade, é a eles que telefono a dizer que já vou a caminho, é a eles que digo o que me apetece comer, é a eles que digo que vou com sede... Ali chegado, sinto-me em casa. Um abraço apertado, um beijinho, um chi-coração e já estou de copo na mão. A Casa Ventura é um espaço simples, acolhedor e muito confortável. Sempre repleto de clientes, muitos dos quais já são também amigos. Lá dentro os aromas que consigo sentir a todo o momento fazem-me lembrar a casa dos meus pais, a comida caseira, de tacho e de forno, que tanto aprecio. 
Vou para a mesa e os petiscos começam a chegar... os bolinhos de bacalhau, os enchidos, as moelinhas estufadas, uma cebola cortada em quatro com sal grosso, azeite e vinagre de vinho verde tinto, azeitonas e o pão, estes são obrigatórios. Abre-se a primeira garrafa de vinho verde geladinho que desaparece rapidamente! A seguir é só escolher o que se vai comer... A vitela grelhada e laminada na mesa é uma perdição. Os bacalhaus, sejam eles fritos com cebolada, grelhados na brasa ou assados no forno de lenha, sempre bem regados com azeite, são muito apreciados, mas um galo estufado com ervilhas ou um galo de cabidela, nem vos conto!!! Comer uma simples canja é algo que nunca mais se esquece, feita de galinha autêntica, a que não falta nada, nem mesmo as tripas da galinha, como manda a tradição. Que maravilha! Para mim a melhor canja de galinha que já comi até hoje. Mais dois pratos que não posso deixar de mencionar, o coelho estufado e o cabrito de caldeirada. Ainda há outros tantos pratos que acompanham tão bem com os vinhos verdes tintos que são de uma qualidade incrível bebidos sempre em malgas ou canecas como tem que ser, mas o melhor mesmo é passar por lá.

Cozinha baseada em produtos de grande qualidade, como ali sempre tem sido ao longo dos anos, dos muitos anos em que a Casa Ventura está aberta, são depois as mãos femininas que fazem o resto, sempre com o respeito pelas tradições, pelos temperos originais, como já fazia a mãe e a avó, para deleite dos comensais. Cada vez que ali vou é como se fizesse uma viagem desde a minha infância até hoje, relembrando os aromas e os paladares da comida caseira, feita com gosto e carinho, mas acima de tudo feita com tempo!
No fim, entre muita doçaria, há as famosas rabanadas, que muitas vezes ainda vêm a fumegar para a mesa, com mel e canela.
Vou repetir o que já tinha escrito anteriormente no Guia das Tascas de Portugal, a Casa Ventura é sem dúvida uma “Catedral da Gastronomia”.

Gente boa, gente amiga, que já merecia esta crónica, com amizade sincera. 
O meu problema é sempre sair dali e regressar a casa.
Um grande abraço, meus queridos amigos.