A defesa do bem comum
No último artigo falei sobre a noção de bem comum e como a atual situação de emergência nacional veio questionar. Essa noção regia a vida das sociedades tradicionais em Portugal até há bem pouco tempo, funcionando como a base de toda a estrutura social e económica. Assentava numa convivência estreita com a natureza e em relações estreitas entre as pessoas. Embora existisse o conceito de propriedade privada, o que regia o dia a dia era a noção de que o meu bem, aquilo que era bom para mim, não poderia de forma nenhuma significar algo de mal para os outros.
A pastorícia vivia nessa estrutura. Se um pastor ficasse doente haveria outro que lhe ajudaria com o rebanho. Se algum perigo rondasse o rebanho, todos acudiam e ajudavam. Se o ano fosse mau, a solidariedade coletiva ia em socorro desse pastor.
Já no passado falei sobre o pastoreio e hoje quero falar em específico da ACOM (Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra) que tem como objetivo a conservação da linhagem pura da raça ovina Churra Galega Mirandesa. Os profissionais envolvidos neste projecto têm realizado um trabalho meritório na conservação e na promoção nacional e internacional desta raça. A associação disponibiliza os seguintes serviços aos criadores:
· Gestão do Livro Genealógico da Raça Ovina Churra Galega Mirandesa;
· Apoio técnico e veterinário aos associados;
· Candidaturas às ajudas da PAC;
· Guias de transporte de animais (ovinos/caprinos);
· Controlos e Identificações Animais;
· Comunicação à base de dados SNIRA;
· Identificações/Re-identificações de ovinos/caprinos;
· Morte e desaparecimentos de ovinos/caprinos;
· Declaração de existências (ovinos/caprinos)
· Elaboração e manutenção do RED-OC
A defesa do bem comum passa por evitar o desaparecimento de espécies animais e formas de vida e de trabalho tradicionais. A associação protege a raça e os criadores garantindo ao mercado um produto autêntico, seguro e de postura tradicional. Infelizmente não os protege de situações como as que vivemos atualmente, em que o mercado enfrenta uma quebra de procura e influenciado a liquidez dos criadores.
Aqui entra a consciência social dos consumidores. Por consumidores falo dos profissionais e dos domésticos. O momento é de agir e converter em ações muitas palavras bonitas que são ditas frequentemente. É muito mais confortável concordar que os produtos tradicionais são de qualidade superior e que contribuem para a defesa de uma forma de vida, mas menos confortável passar a incluir essa oferta nos menus ou na nossa alimentação.
Falo em específico da carne de Cordeiro Mirandês ou Canhono Mirandês. Este produto é certificado pela associação como DOP (Denominação de Origem Protegida) e é um dos melhores produtos existentes em Portugal. Segundo as diretrizes da certificação o animal não deverá exceder os 4 meses de idade e com peso de carcaça entre os 4kg e os 12kg. Estas características são muito importantes para a preparação e confeção destes exemplares.
Os produtos podem ser distribuídos para todo o país através da própria associação.
Contactos:
Email: geral@ovinosmirandeses.pt
Telef.: 273 417 066
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Estes produtos sabem melhor consumidos no território. A ligação do produto com a paisagem onde é consumido é uma característica emocional que decorre no ato de comer. Passa de simples consumo a ato cultural. Desta forma recomendo a todos que, quando for possível viajar, façam um roteiro pelo nordeste de Portugal e descubram o que a região tem e pode oferecer. Aí poderão observar tudo o que representa a cultura de um povo, expressa nas suas tradições e na sua gastronomia.
No entanto, a utilização do produto não é exclusiva do território. É um emblema nacional. Confecionado em fornos a lenha, em fornos convetores, em panelas de barro ou em panelas de ferro, em fogões a lenha ou em fogões a gás, será sempre um produto de elevada qualidade e que se destaca facilmente de outras carnes. Este é o momento de contribuir para o bem de todos, #subsistir e manter as tradições.