Na Foz do Rio Sabor
Chegado finalmente o bom tempo, já com o verão em pleno, aparecem produtos da estação nas várias categorias, sobretudo legumes e frutas. As cerejas já lá vão… os morangos ainda se mantêm em força. Os melões, ai os melões… as frutas de caroço: pêssegos, alperces, ameixas. Nos legumes, as várias qualidades de feijão estão a pedir para colher as suas vagens, as alfaces continuam viçosas e tenras, os pepinos e os pimentos estão quase no auge e os tomates começam a dominar por completo, saborosos e carnudos. Não esquecendo as cebolas novas e as beldroegas a crescer por todo o lado!
É também nesta época que aparecem cada vez mais em força os peixinhos do rio. Em Trás-os-Montes e no Douro podem ser pescados em todos os rios e riachos e mesmo em algumas albufeiras. Embora os peixes maiores dominem e, por vezes, até destruam todos os outros, como é o caso do achigã. Mas, felizmente ainda se continua a pescar enguias, escalos, bogas, barbos e o próprio achigã (este ultimo apenas à linha). Vão aparecendo também as trutas, daquelas mais pequenas, que se preparam com molho de escabeche. No Pinhão e no Tua ainda se encontram alguns locais para a petiscada, mas é na Foz do Sabor que me habituei a ir ao longo dos anos, desde moço, com malta amiga de Alfândega da Fé, pelo vale da Vilariça abaixo, em busca dos deliciosos peixinhos. E ainda bem que esta tradição se mantém, não só por parte de quem pesca os peixinhos e de quem os confecciona, mas também de apreciadores como eu e muitos amigos, que não nos importamos de percorrer alguns quilómetros para nos deliciarmos.
Chegados à Foz do Sabor, perto de Torre de Moncorvo, mesmo na confluência do rio Sabor com o Douro, não longe do Pocinho, é procurar um dos cafés ou simples casas de pasto e tomar assento à mesa. Pão regional e azeitonas, uma salada mista dos legumes da horta apanhados pela fresca da manhã, sal grosso, azeite e vinagre de vinho, uma maravilha! Depois é esperar que na cozinha as senhoras deem fritura adequada aos peixinhos. Que vêm de seguida para a mesa, ainda a fumegar. Comem-se á mão, chucham-se as cabeças, não se deixa nada a não ser as espinhas. Os peixes acompanham com migas ou um arrozinho de legumes, á vontade do “freguês”. E lá vão saindo travessa cheias deles até ficarmos saciados e bem regados com vinho do Douro, por fim uma boa talhada de melão. Com o café, é obrigatório um bagaço, também refrescado, para boa digestão.
Ainda ontem fui com um grupo de amigos para o Rio Sabor, tivemos direito ao achigã, às bogas pequenhinhas e ao barbo à posta, fritura no ponto, crocantes por fora, húmidos por dentro e o molho à parte para colocar por cima. Que loucura, oh meu deus!
No fim, o jogo da malha, uma tradição popular que se mantém, em terras transmontanas.