A despensa natural

O mundo natural tem uma despensa e todos os Homens têm o direito em se alimentar dela. Os alimentos que conheço e uso têm todos a sua origem na natureza. O sal é extraído da água do mar, os legumes cultivados da terra, a carne obtida do abate de animais. Este argumento poderá ser muito primário, mas faz parte da génese humana. A evolução caminhou da caça e recoleção para a revolução agrícola e da revolução agrícola para a revolução cientifica e industrial. Ou seja, da simples recolha de alimentos até à criação de alimentos. Já conseguimos alterar geneticamente espécies animais e vegetais e poderemos estar muito perto de conseguir criar outras completamente novas.

Há uns dias atrás fui à caça. É uma expressão antiga, que no passado era repetida incessantemente por todo o planeta, mas que na atualidade carrega um sentido menos positivo. Fui à caça e levei uma arma de fogo moderna, levei os cartuchos autorizados, levei os documentos, fui nos dias e na época autorizada e cumpri todos os standards modernos. Isto porque o acesso à despensa natural tem regras para garantir que a próxima geração também tenha acesso à mesma. Ao sair do carro entrei num caminho de terra, caminhei com uma certeza absoluta que muitos dos meus antepassados nunca imaginaram que, se abatesse ou não algum animal, eu teria sempre almoço, lanche e jantar garantido. Não está em causa a minha sobrevivência. Está em causa a possibilidade de obter um alimento na despensa natural. Está também em causa a continuação de uma atividade que está registada nos meus genes.

Voltei para casa com algumas perdizes. Foram depenadas e tratadas a preceito com técnica e saber (sim, há muito saber na forma de tratar a carne de caça). Foram confecionadas. Quem degustou este “pitéu” “lambeu-se” e não parou de elogiar durante a refeição. O produto foi a estrela, não o empratamento. A forma de obtenção do produto foi a mesma. A arma que usei foi moderna, testamento da evolução do conhecimento do Homem e diminuiu o esforço. A recordação desse jantar perdura. Mais um momento cada vez mais único e singular.