A Comida de Subsistência e como manter as equipas produtivas

O nome deste blog “comida de subsistência” encontra algumas barreiras de interpretação. Não é comida de sobrevivência ao estilo Bear Grylls nem comida tradicional portuguesa. A origem do termo vem de agricultura de subsistência que era a modalidade de produção de alimentos mais comum em Portugal. Era uma agricultura pouco mecanizada e assente numa relação simbiótica com a natureza. A forma de propriedade da terra era em minifúndio, criando um patchwork distinto de ocupação do solo.

O termo na nossa interpretação não se resume à agricultura, mas sim ás atividades tradicionais à volta da subsistência das populações como a pastorícia, a pesca não comercial, a caça e recoleção de outros alimentos selvagens (cogumelos, espargos selvagens, mel). 

A diferença para a comida tradicional tem a ver com a envolvência. Neste conceito, a comida de subsistência pressupõe que plantes o milho e produzas a broa, em oposição à possibilidade de ires comprar o pão já cozinhado. Pressupõe alimentares o porco, desmanchares e transformar a carne em chouriças, em oposição a ires comprar as chouriças. É conheceres as variedades de cogumelos comestíveis, esperar pela época do ano em que aparecem, recoletar na natureza e confeccioná-los. 

Este envolvimento permitia ao agricultor de subsistência minifundiário um controlo muito apertado sobre os métodos de produção e confeção dos alimentos. Nos dias de hoje poderíamos dizer que seria um conhecimento 360 graus de todo o processo alimentar. Conhecer a origem do alimento e o processo criava uma degustação mais holística e integrada, em que o sabor era apenas um pequeno elemento do processo alimentar. Era uma comunhão especial com o alimento e com o mistério da vida.

Não será um exagero dizer que a refeição nunca estava garantida. Havia todos os dias algo a fazer, um muro para compor, um campo para cavar, um rego a arranjar, que mantinha o ser humano ocupado. Havia um propósito, uma força clara que orientava o trabalho. Uma espécie de destino previamente traçado. Nesta luta diária, o esforço de subsistência era feito de forma grupal. As pessoas viviam em aldeias pequenas em que partilhavam um destino idêntico. Não era comunitarismo integral, porque havia propriedade privada das terras e das casas e a sorte de cada um variava. Era uma divisão de esforços em que o coletivo ajudava o homem e o homem ajudava o coletivo. Mas vamos à segunda parte deste artigo. Como esse estilo de vida comunitário e de subsistência poderá ser usado para manter as equipas produtivas?

O modelo de comida de subsistência é um modelo colaborativo em que todos contribuem para o bem comum. Neste modelo todos são chamados a contribuir, criando um sentido de pertença e comunidade. Independentemente do modelo de gestão de cada um, este modelo de trabalho colaborativo assenta em vários princípios:

·      Todos colaboram, mas a responsabilidade assenta no líder que a assume com confiança;

·      Todo o trabalho é concreto e específico;

·      Uma cultura de execução muito forte;

·      Seguem um fluxo linear;

·      O comando das tarefas é descentralizado;

·      O trabalho é executado com sentido de missão;

 

No trabalho do campo o dono do terreno pede ajuda ás pessoas da aldeia para ajudarem numa tarefa. Ele assume toda a responsabilidade da tarefa. O trabalho é específico e cada participante sabe o que fazer e como o fazer. A cultura de execução é muito forte uma vez que cada participante é também ao mesmo tempo dono de terrenos e possui conhecimento integral de todos os processos necessários ao bom desempenho dessa tarefa. Cada um executa a tarefa com sentido de missão, uma vez que como todos possuem terrenos, a colaboração deverá ser positiva porque futuramente irá requerer ajuda por parte dos outros.

A grande diferença está aqui. Todos lideram e todos são liderados, uma vez que assumem esta posição em momentos distintos. Uma vez como colaboradores e outra vez como líderes. Esta situação fazia com que todos vestissem a mesma pele e dessa forma conseguissem sentir o que era estar no papel do outro.

O desafio dos líderes na atualidade é o de assumirem a inteira responsabilidade do negócio ao mesmo tempo que executam o trabalho de forma colaborativa. O modelo da agricultura de subsistência funcionou durante milénios em Portugal e foi a fundação de uma cultura popular de trabalho, dedicação e perseverança. A resposta a esta crise vai obrigar à colaboração de todos, que na execução de tarefas quer no contributo para encontrar soluções. As soluções serão sempre coletivas. O mito do individuo que tudo alcança sozinho está a decair. Sem colaboração as hipóteses de sucesso diminuem.